Rir é o melhor remédio

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Juntámos um improvável grupo de conselheiros para nos ajudar (e a si também) a potenciar a energia positiva. Deixamos-lhe uma dezena de ideias.

Rir aumenta a nossa energia física e a nossa energia emocional, que ninguém duvide disto! “O homem é o único animal que ri, temos uma ferramenta poderosa que nos ajuda a viver bem, a trabalhar melhor, a sermos mais criativos e flexíveis. O riso mata o medo, propicia a generosidade e quando rimos temos mais entusiasmo de seguir nossos caminhos”, garante o ator/formador Raul de Orofino, que há 30 anos vem trabalhando, em bem humoradas ações de formação, a consciência do riso. “Casamentos onde os parceiros riem juntos, durarão muito mais do que outros em que as pessoas não riem”, sublinha. O humorista conta ainda que muitos hospitais no mundo aplicam terapias de humor para pacientes com cancro e com sida e a sobrevida deles aumenta.” É por isso que rir é “muito mais sério do que todos pensamos.” E ter bom humor não significa ter de contar uma piada todos os dias. “Começa pelo facto de se valorizar o facto de estar vivo hoje.” As crianças, segundo a medicina, riem de 300 a 400 vezes por dia, os adultos de 15 a 30 vezes, no máximo. Temos muito que trabalhar! Raul de Orofino (humorista/formador)

FÉ E A ALEGRIA DE VIVER

“A fé é a energia mais positiva que me revelou o sentido do meu viver”. Numa frase, curta em dimensão, longa em alcance, o padre Borga diz como a fé é a fonte da maior energia: a do Amor. Esta energia é a alegria de viver, “não só quando a vida nos corre ao jeito mas quando caminhamos ao jeito próprio da vida – mesmo que, muitas vezes, não entendamos tudo de forma fácil.” “Não haverá energia mais positiva do que aquela que brota de nos sabermos amados para aprendermos a amar. Só que esta energia só se recebe na justa medida em que se oferece a quem dela mais precisa.” José Borga garante que, pode até parecer, mas, “ter fé” não é difícil: “Começa por uma pequena dose. Mas se a alimentamos ela cresce e fortalece-se, deixando de ser um entusiasmo superficial, uma memória longínqua (infantil), ou um apelo vago e difuso.” Aumentamos a nossa fé, desde logo, “identificando e assumindo muitos dos nossos limites, pessoais e comunitários, para, por eles e com eles, aprendermos a caminhar mais e melhor!” Padre José Borga

IOGA, A BEM AVENTURANÇA

Quem pensa praticar ioga (uma filosofia, não uma terapia) não espere que lhe seja apresentada uma lista de benefícios à cabeça. No entanto, “eles ocorrem, consequências da vivência dessa prática”, explica Sónia Monteiro, profissional desta área e que leva nove anos de ioga. Através, sobretudo, da meditação, “conseguimos um estado expandido de consciência, um autoconhecimento, associado a um bem-estar, alegria sincera, energia positiva.” Pois… a questão é que fomos treinados a pensar e parece improvável parar de pensar. Basta disciplina e constância para que a técnica funcione: temos que saturar o pensamento com um mesmo estímulo (uma imagem, um som) até que a mente pare. Ela dispersará várias vezes. O trabalho é retomar o estímulo as vezes que for necessário. Chegará um momento em que já se meditará. É que a mente dá significado a tudo o que os sentidos percecionem. Quando olhamos uma flor, a memória categoriza tudo: cor, formato, cheiro, etc. Mas se a mente pára, a perceção do objeto no qual se concentra não é baseada na experiência sensorial mas noutro tipo de perceção mais abrangente sem limites de tempo, espaço ou memória. Essa existência pode ser percebida por um outro órgão percetivo que nos humanos está pouco desenvolvido e que, uma vez em funcionamento, permite perceber a “existência” daquilo que nos cerca e de nós mesmos sem a influência dos sentidos, lógica e razão. Isso é meditar. “O estado da bem-aventurança.” Sónia Monteiro (profissional de Ioga, Método DeRose)

A FORÇA DAS CORES

Roupa vermelha estimula a vitalidade – “influencia o sistema circulatório e transmite energia” -, enquanto o amarelo influencia o sistema nervoso e favorece a boa disposição – “ajuda a ultrapassar problemas de fadiga e stresse”. Já o verde “ajuda a encontrar equilíbrio emocional, fomentando a sociabilidade.” Estas são algumas convicções da cromoterapia, terapêutica que usa as propriedades das cores para alcançar o equilíbrio energético da mente e das emoções. Esta terapia tem como base as sete cores do arco-íris, sendo que cada cor tem características específicas e funções distintas a exercer no corpo humano. Também os cristais têm poder sobre a nossa vida, porque possuem “uma energia vibracional tão forte que, ao serem colocados num determinado ambiente, transmitem um raio que é absorvido pelo organismo, desbloqueiam os chakras (os sete centros de energia existentes no corpo humano) e harmonizam as energias”, garante a especialista. Cada cristal tem uma função de acordo com o seu tamanho e cor. O ónix, por exemplo, é um poderoso escudo protetor que afasta as energias negativas e promove a paz interior. Convém trazer sempre um connosco, até porque no emprego também fará falta: os locais de trabalho apresentam uma maior concentração de energia negativa, já que lá se encontram personalidades diversas. Com as tensões e o stresse presentes há um desequilíbrio de energias criador de conflitos. Os cristais contribuem para equilibrar o ambiente e manter a energia positiva “num padrão vibracional elevado.” Maria Helena (especialista em temas esotéricos)

ORGANIZAR A CASA SEGUNDO FENG SHUI

Está a ver aquele cabide atrás da porta impedindo-a de abrir totalmente? Tire-o já dali! As portas de uma casa têm de abrir livremente, defende o Feng Shui – filosofia oriental milenar segundo a qual a forma como decoramos o lar pode (ou não) ajudar a atrair energia positiva. Maria Helena, especialista em temas esotéricos, lembra que “há pessoas que se sentem desmotivadas e isto pode acontecer porque alguma coisa está a impedir a energia de circular em casa, o que provoca bloqueios energéticos”. No Feng Shui existe o Chi, a energia positiva e o Shar a energia negativa e, para ambientes saudáveis, é necessário que haja equilíbrio e que o Chi circule livremente. Limpar os cantos da casa, deitar fora o que estiver partido, não acumulando mais do que é necessário, usar um candeeiro para iluminar um canto escuro aumenta a energia positiva. Mas ter televisão no quarto é proibido, a menos que lhe coloque um pano por cima antes de dormir. Assim, “não terá efeitos tão negativos”. Maria Helena (socióloga e especialista em temas esotéricos)

MÚSICA NA ALMA

“Música, eu nasci prà música, para te ver sorrir e a sonhar, e se escutares com atenção tens o bater do teu coração, na minha música…” É da música que vem boa parte da nossa energia positiva. O poder da música é “o de alienar as pessoas, sugerir-lhes o sonho”. Quando escreve, toca ou canta, José Cid sabe que estes sons melodiosos “vão directamente dos nossos ouvidos para dentro da nossa alma”, essa entidade abstrata, grande criadora de energia. Uma melodia ajuda a “recarregar baterias, a esquecer e a apagar as chatices do trabalho, as péssimas notícias do jornal e, desse ponto de vista, cria a energia positiva que nos ajuda a enfrentar o que há de menos bom, areja a cabeça e as ideias”. Pop, rock, de fusão, clássica, ao estilo de quem a ouve, trauteia, toca ou dança, funciona como “um fantástico escape ao dia-a-dia”, sendo, por isso, “louvável e recomendável”, consumi-la em todos os lugares, a qualquer hora, diariamente. José Cid (músico)

NOS CAMINHOS DO ORIENTE

Atingir o bem-estar de corpo e alma são o fim comum de terapias orientais como o Reiki, o Shiatsu, a Tui Na, procuradas de forma crescente porque num curto espaço de tempo (60 minutos) oferecem sensações de leveza, tranquilidade, paz interior e de boa energia. Segundo a Medicina Tradicional Chinesa, para além dos órgãos e todos os sistemas, o corpo é percorrido por canais chamados meridianos, onde circula a energia (Qi). Estas terapias visam ultrapassar as perturbações na circulação do Qi, baseando-se, sobretudo, na pressão do toque nos pontos energéticos (os sete chakras). Com mais de 3000 mil anos, a massagem Tui Na é “um poderoso método para restabelecer o equilíbrio, manter longe a doença e assim podermos estar bem connosco e com os outros”, garante o terapeuta Telmo Esteves. O Reiki, ou Energia Universal, repõe as energias onde faltam (nos chakras), retira as energias negativas, o stresse, o cansaço físico e emocional, sublinha Flávia Corrêa. Já o Shiatsu, “ajuda a regular as funções do sistema nervoso, dando uma sensação de espírito renovado, retirando o stresse e a baixa auto-estima”. Flávia Corrêa garante que, no final de uma destas sessões, “as pessoas estão mais leves, tranquilas e sem a sensação de ‘peso’ nas costas.” Flávia Corrêa (Intuition Chiado) e Telmo Esteves (Clínica Meihua)

AGRADECER AS BENÇÃOS DE CADA DIA

Talvez a falta de prática nos impossibilite saber como a gratidão proporciona um enorme incremento de bem-estar. Ser-se grato é um conceito recentemente estudado pela Psicologia Positiva, corrente da Psicologia que se interessa não apenas pelos aspectos negativos do funcionamento humano, mas também pela forma de potenciar os positivos. Gabriela de Abreu, fundadora da Associação Portuguesa de Estudos e Intervenção em Psicologia Positiva, aconselha vivamente o exercício das três bênçãos diárias. No fim de cada dia, registarmos três coisas pelas quais estamos gratos. Não precisam de ser grandes acontecimentos ou conquistas, podem ser as mais pequenas coisas: o olhar a linha do horizonte à beira-mar e respirar fundo, o sorriso dos filhos, um almoço agradável com um amigo. Robert Emmons, especialista norte-americano na área, chama a isto “querer-se aquilo que se tem”. Num mundo dominado pelo querer sempre mais, é incrível que se possa aumentar os níveis de bem-estar (e da tal energia positiva) com o simples reconhecimento do que já se tem. “Quando peço este exercício nas conferências que dou pelo país, muitas pessoas parecem verdadeiramente destreinadas, mas é fascinante ver a transformação que se opera passados alguns minutos: muitas, em vez de agradecerem três coisas, agradecem oito, dez! E quando se comprometem a fazer o exercício em casa, diariamente, mais tarde vêm revelar que isso as ajudou a ver a quantidade de bênçãos que o seu dia-a-dia contém, não obstante o muito que ainda possam querer conquistar.” Gabriela de Abreu (fundadora da Associação Portuguesa de Estudos e Intervenção em Psicologia Positiva)

MEXA-SE PELA SUA FELICIDADE

O desporto em sentido lato, e o de competição em particular, cria paixão, disciplina, coragem e resiliência. É por isso que a energia positiva que o desporto gera – para além dos evidentes benefícios para a saúde – têm também uma influência extradesportiva: “A maioria dos atletas formados no Algés têm tido carreiras profissionais assinaláveis nas mais variadas áreas”, conta Isabel Ribeiro, presidente do Sport Algés e Dafundo (fundado em 1915). Exemplifica: na equipa sénior feminina de basquetebol (uma das melhores do país) há uma professora, uma advogada e uma médica. Daí que a primeira mulher presidente do SAD, jurista de formação e há anos praticante de natação, lembre que encontrar tempo para praticar desporto é “absolutamente vital e deveria ser facilitado através de horários flexíveis no trabalho e na escola”. Isabel Ribeiro (presidente do SAD)

SABER DAR

“Tudo o que não se dá, perde-se.” A frase pertence a Madre Teresa de Calcutá e há quem acrescente que poucas coisas na vida darão mais energia positiva do que dar: “dar-se, ou seja, darmo-nos”, garante Isabel Jonet, responsável pelo Banco Alimentar. A economista, que fala por experiência própria, diz que a tal energia positiva é um estado de espírito que se alcança dando porque, “ao sairmos de nós próprios e indo ao encontro dos outros, dando aquilo que eles querem e precisam de receber – e não aquilo que nós estamos dispostos a dar -, ficamos melhor e fazemos outros acreditarem que é possível.” Dar permite, então, “descentrarmo-nos de nós mesmos, podendo voltar a atribuir valor absoluto a coisas que haviam passado apenas a ter um valor relativo”. É possível e essencial dar, no nosso dia-a-dia e mais do que coisas é recompensador dar tempo, companhia, sorrisos, bom viver. “Dar gera energia positiva para a sociedade como um todo.” Isabel Jonet (presidente do Banco Alimentar)

(Texto publicado na edição Revista Única/Expresso 7 Novembro 2009)